quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Seguro morreu de velho.

No sul da Bahia aprendi com José, um cidadão brasileiro de boa cepa, de cor negra, algumas crendices, que imputo a resquícios dos tempos da escravidão no Brasil.  
Digo isso porque já li, não sei aonde, que os donos de escravos no Brasil para impedi-los de comer as frutas de suas fazendas e quintais inventaram uma série de crendices que foram transmitidas oralmente e até hoje vigoram em certas regiões. 

Vejamos o que fiquei sabendo:
 "- Carambola é perigosa. Pode dá  um soluço seco que não para e que até mata.
- Se comer abacaxi e misturar com outra coisa mata.
- Quem torra café e entra na água morre mesmo.
Que ele, José, não torra café de jeito nenhum!"

Continuando a conversa fiquei sabendo que abacaxi também é remédio para tosse de criança. 
 Segue a receita:
"Parte o abacaxi em pedaços, colocar açúcar e deixar ferver bem. Depois dá esse lambedor para as crianças."
Perguntei o que era lambedor. Ele explicou que é xarope. A criança pequena vai lambendo na chupeta, ou na colher.
 José me disse que pode fazer o mesmo lambedor com beterraba. Que de beterraba ele gosta e come, pois não faz mal.
Aproveitei a deixa e perguntei como o abacaxi pode matar e ser remédio ao mesmo tempo? 
Ele respondeu: Sei não. Só sei que não como abacaxi de jeito nenhum!    

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Da dor de existir

"Viver é perigoso". Guimarães Rosa colocou na boca de Riobaldo essa frase que serve para os momentos que  vida encontra o real da morte e nos deixa sem palavras. 
Soube ontem que uma prima de uma grande amiga, na casa dos trinta anos, pulou para morte no sábado de carnaval. Tragédias como essas me deixam sem palavra.
O que leva  a uma pessoa que, tendo a vida pela frente, escolhe dar um salto mortal sem rede e sem volta?
O que na vida subjetiva leva a o individuo abrir mão da pulsão de vida e ser derrotado pela pulsão de morte?
 Muitas perguntas acompanham a um ato suicida. Todas elas ficam sem resposta pois o sujeito escolheu sair de cena.  
Para a família  resta conviver com a dor da perda e da falta de respostas.  É a tal dor de existir que se impõe e vem quando e de onde menos se espera.
Sei que a dor da morte de entes queridos não é aplacada por explicações. Ainda assim tem mortes que são anunciadas, por doenças, velhice, etc.. e esperadas. Será que posso dizer que essas sejam menos traumáticas? Talvez. De qualquer maneira o real da morte é sempre mais ou menos traumático.
Resta elaborar o luto dessa perda e "juntar os cacos para continuar vivendo", como disse minha amiga. 
Tragédias familiares como essa me lembram Freud que diz que o ser humano sobrevive graças ao recalque. Isso é graças a sua capacidade de esquecer, de recalcar os eventos que lhes são traumáticos. É o recalque que permite que mais dia, menos dia, retornarmos o curso de nossas vidas.
Que o recalque cumpra a sua função.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Esses homens surdos e seus aparelhos de sons assustadores.

O fenômeno da atualidade é a falta de educação e de respeito que permeia as relações entre os vizinhos, principalmente durante as férias que é associada a bebedeira e a som altíssimo, principalmente em cidades do litoral brasileiro.
Não posso chamar de música os ruídos altíssimos que saem de equipamentos gigantes instalados ou em casa ou em carros, cuja função, além de ensurdecer o próprio sujeito e irritar os vizinhos, deve ser impedir o sujeito de se relacionar consigo mesmo,  com o seu grupo familiar ou de amigos, e mesmo com seu meio ambiente.
Esses indivíduos acordam com um copo de cerveja em uma mão, enquanto a outra mão liga a máquina de fazer barulho. Vale qualquer barulho. Quando não são CDs, as rádios são ligadas, tudo muito alto!!! Cada coisa que toca meu Deus! Definitivamente me recuso a chamar aquilo que sou obrigada a escutar de música. Falta letra, harmonia, ... Só resta um ruido ensurdecedor letras de baixo calão. 
Como consequencia do barulho para conversarem entre si tais indivíduos gritam! E olha que sou de família italiana que, como vocês devem saber, fala alto. É assustador o barulho que fazem! 
Assusta ainda mais  quando você bate na porta desses indivíduos pedindo para abaixarem um pouco a música e perceber que eles nem se dão conta que tanto barulho incomoda os vizinhos.
O pior é constatar que essa falta de educação e respeito não tem idade. Quantas vezes bati em porta de vizinhos barulhentos que eram pais e mães de família e tinham a minha idade! 
Tenho observado que, na maioria das vezes, quanto maior a idade mais difícil a negociação para abaixarem pelo menos um pouco o som durante o dia e para respeitarem o horário de silencio estabelecido por lei  a partir das 22hs. Férias não pode ser suspensão da lei. Senão vira a barbárie e ganha o mais forte.
 


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Bons Encontros

Esse ano os papos na praia renderam bons encontros.
Nós, que somos professores aposentados da Federal do ES, conhecemos dois casais de professores da universidade federal de MG.
 O papo fluiu como se já se nos conhecêssemos há muito tempo! Foi uma conversa boa dessas que parece de bons amigos que há muito não se encontram e quando se reencontram parece que a conversa foi interrompida ontem!!
Outro encontro memorável que rendeu boa conversa  foi com um casal de Itabirito - MG.
Ele engenheiro, ela enfermeira e acupunturista.
Eles em uma viagem pelo Brasil se apaixonaram por um vilarejo no Lençóis Maranhenses onde acabaram comprando uma casa. Coisa de ocasião, muito barato o preço e boa  casa, bem construída, nos informaram. 
De Minas até Lençóis tem muito chão e sonhos. 
E  realizar sonhos talvez tenha sido outro ponto comum na conversa dos quatro. Não foi assim em um rompante que compraram uma casa de praia  no sul da Bahia?
Bons esse encontros inesperados e despretensiosos que rendem bons papos e, quem sabe, prenunciem novos reencontros e laços de amizade.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Das coisas boas da vida.

Descobri ontem conversando com amigos mineiros na barraca do Faria, Arraial  d'Ajuda, Bahia, que os mineiros do interior, na época que dá jabuticaba tem o hábito de alugarem uma jabuticabeira por um dia. Naquele dia eles podem subir na arvore , chupar tantas jabuticadas quanto eles conseguirem e ainda levar para casa o tanto que colherem.
A Leonor, que me contou essa história, confirmada pelo Chico, mineiro de outra cidadezinha, disse que o chato é quando você tem que mudar de galho na jabuticabeira!

Os achados de Lacan

Lacan, psicanalista francês contemporâneo, dizia que nós poderíamos nos denominar lacanianos, ainda que  ele se autodenominasse freudiano. 
Lacan retomou e releu a obra freudiana devolvendo a ela seu vigor e o impacto decorrente da descoberta do inconsciente.
A releitura de Freud e a cunhagem do objeto pequeno "a" fez com que a teoria lacaniana ultrapasse seu criador. 
Esse preambulo eu fiz só para situar, muito de passagem, quem foi Lacan.
 Lacan ficou famoso e antipatizado no mundo acadêmico por não citar suas fontes de conhecimento e os lacanianos, grupo no qual me incluo, repetimos alguns de seus aforismas, muitas vezes sem sabermos a fonte, que atribuímos a ele.

Lendo o livro apaixonante da escritora espanhola Rosa Montero, " A Louca da Casa", descobri que a definição do amor que Lacan repete em seus seminários, que foram transcritos e publicados posteriormente, é a definição que Aristóteles deu de amor.  
Segundo Aristóteles "amar é dar o que não se tem a quem não é". 
Essa definição genial abarca o cerne do engodo da relação amorosa e põe por terra a existência de uma relação amorosa que seja perfeita.
Para nós, pobres mortais, a perfeição e a felicidade plena não existem. Ainda assim a vida, aparada as arestas dos sintomas e da insistente pulsão de morte,  pode ser bela e  nos proporcionar grandes nacos de prazer, alegria e felicidade.
  

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

No ritmo dos tambores

Ouço ao longe o ritmo do batuque de tambores. Barulho novo e bem vindo aos meus ouvidos. Ritmo incessante de vida que flui numa cadencia que, inevitavelmente, leva o ouvinte a sacudir seu corpo. 
Essa música me relembrou um comentário pejorativo que escutei certa ocasião sobre uma moça que se requebrava ao ritmo de uma batucada em uma tarde de carnaval numa cidadezinha praiana. 
Olhando para a moça que dançava feliz com um grupo de amigos um senhor disse para uma senhora, que pela idade parecia ser sua esposa, que ela observasse o tipo de gentinha que frequentava aquele lugar. 
Eu cá do meu canto escutei tal comentário preconceituoso como inveja da juventude, da alegria e do ritmo da dançarina.