domingo, 27 de maio de 2012

As dificuldades de cada um

Tinha uma vida tranquila: emprego, apartamento montado, plano de saúde, mesmo assim estava sempre se queixando de tudo. 
Era de poucos amigos e de pouca conversa. 
Achava graça das imperfeições alheias, pois a natureza, ela própria se encarrega de inscrever no corpo as diferenças bonitas e feias  de cada um.
No mais era sempre a reclamar. Da casa que limpou, do ônibus que pegou, do sol que estava quente, da roupa que lavou na máquina, de tudo.
Sempre com uma cara de coitada, sofrida e abandonada. 
Para ela o dia era sempre difícil e a vida pesada. Tão pesada que arrancou o peito. Era despeitada.  
Tudo isso porque sofria do mal da inveja e do ciúme.
Invejava e tinha ciúme da vida do outro que sempre achava melhor que a sua.  




quarta-feira, 23 de maio de 2012

Grande Dolto!

Françoise Dolto uma emimente psicanalista que tinha uma escuta admirável diz, em seu livro "As fases decisivas da Infância" na página 178 que:

"A pior agressividade é aquela que é perversa, ou seja que tem a aparência de ser gentil mas, na verdade, é muito agressiva."

 Esse frase me lembrou uma peça chamada "Crimes Delicados" que assisti nos anos setenta com o casal Fernanda Montenegro e Fernando Torres. 
Era uma casal  que se tratava com adjetivos carinhosos, que já não me lembro quais eram. Os adjetivos mascaravam uma relação tão agressiva, mais tão agressiva que, à medida que um falava com o outro, uma parte do corpo do outro ia sendo arrancada, como tendo recebido um tiro certeiro.

domingo, 20 de maio de 2012

Opinião

Tenho acompanhado com interesse a implantação no Brasil da Comissão da Verdade.
Entendo que os crimes praticados por torturadores nos porões da ditadura militar devem ser punidos. 
Até hoje muitas famílias desconhecem o que aconteceu com seus filhos, pais, netos, familiares e amigos que  desapareceram naquele período. 
A essas pessoas, que não tiveram o direito de enterrar seus mortos, o estado deve uma explicação e os culpados pela tortura, morte, e ocultação do cadáver de seus entes queridos, cidadãos brasileiros como nós, devem ser punidos pelos crimes que cometeram.
Não cabe ao estado tentar passar uma borracha no que aconteceu. Até porque não existe borracha que apague a história vivida por um pessoa, por um  povo, ou uma nação.
Aposto no vigor e na ética da comissão da verdade. 
Acredito e espero que essa comissão faça um trabalho sério e desenterre esse passado nebuloso que não temos como esconder ou ignorar. 
Confesso que levei um susto quando li, na edição dessa semana da revista Carta Capital, que o grupo Levante Popular da Juventude  denunciou em Belo Horizonte o médico legista João Bosco Nacif da Silva como criminoso da ditadura militar, como tendo sido participante da tortura e assassinato do preso político João Lucas Alves, morto na Delegacia de Furtos e Roubos de Belo Horizonte. 

Lembrei-me de procurar esse caso no Livro Tortura Nunca Mais, livro citado pelo grupo, que tenho e li desde sua publicação em 1985.
Nesse livro o Sr. João Bosco é citado na página 249, que transcrevo a seguir:

"O auto de corpo de delito de João Lucas Alves, 36 anos, foi rea­lizado a 6 de março de 1969 no Departamento de Medicina Legal de Belo Horizonte, e está assinado pelos doutores Djezzar Gonçal­ves Leite e João Bosco Nacif da Silva. Nela consta:
Autoridade que requisitou — Del. de Furtos e Roubos.
LESÕES CORPORAIS: (…) Duas escoriações lineares alar­gadas, medindo a maior cerca de 5 cm, e situadas na face in­terna, terço inferior do antebraço esquerdo. Escoriações ver­melhas situadas nos 4 últimos pododátilos (dedos do pé) es­querdos: Edema do pé direito. Contusão com equimose arro­xeada sobre a unha do primeiro pododátilo direito. Equimose arroxeada na região glútea direita, face posterior da região escapular direita e flanco direito. Região anal normal. Ausên­cia da unha do primeiro pododátilo esquerdo.
CAUSA DA MORTE — asfixia mecânica”"

Tendo relido esse laudo fiquei me perguntando se atestar que a causa da morte de uma pessoa foi por asfixia mecânica é a mesma coisa que torturar, matar ou assassinar  alguém. Entendo que não.

Como nada sei ou entendo de medicina legal pesquisei no site   www.biomania.com.br (pesquisa realizada dia 19 de maio as 14.46) o que é asfixia mecânica, que transcrevo a seguir:

"O conceito de asfixia mecânica é amplamente utilizado em medicina legal, uma vez que pode ser consequência de ação violenta. Pode ser causada por enforcamento, estrangulamento, sufocação ou imersão, embora possa também ser resultado de causas clínicas, tais como edema da glote, em processos alérgicos; formação de membranas diftéricas; ou ainda acidentes fortuitos como ingestão de corpos estranhos ou impacto direto sobre a garganta."

O uso que a ditadura fez desse laudo é outra coisa e pode fugir ao controle do médico legista. No livro Tortura nunca Mais  não consta nada a esse respeito.
Assim poderia até ser admissível, que representantes do Grupo Levante Popular da Juventude questionassem o laudo dado pelos médicos.  Mais daí a acusaram o médico de criminoso é querer, com bases infundadas, fazer justiça com as próprias mãos. 
Muitas vezes querendo que o torturador, que cometeu um crime hediondo que é a tortura, pague pelo seu crime pode-se cometer um injustiça acusando uma pessoa inocente.

PS: Atendendo ao pedido de Maria José estou postando, abaixo, a nota de desagravo público, publicada em 26 de abril de 1992 pelo CRMMG no jornal Estado de Minas.






 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Das diferenças

Eram moças de famílias diferentes que passaram a conviver por força das circunstâncias. 
As diferenças eram visíveis a olho nu. 
Quando o rei está nu só mesmo uma criança desavisada pode gritar para o mundo revelando tal segredo público. Assim eram as diferenças entre as moças das duas famílias. Delas nada podia ser dito. 
Até que um dia uma desavisada, que já não era criança, disse, sem maldade alguma, na frente da moça da outra família, que detestava perna grossa. Claro que tudo foi dito sem maldade ou intenção.
Ter perna fina e ter perna grossa era uma das diferenças entre as moças das duas famílias.
E Freud revirou-se no túmulo. 
Será que aquela senhora desconhecia a descoberta freudiana do inconsciente?
 

sábado, 12 de maio de 2012

Peixe fresco é outra coisa!

Ontem estive na Praia do Suá , na cooperativa dos pescadores para comprar peixe. 
Trouxe dentre outros pescados um atum de mais ou menos quatro quilos. Pedi para tirarem os filés e reparei que sobrou muita carne perto da espinha e na cabeça.
 Trouxe tudo. Ferventei a carcaça do peixe com sal, cebolas, alho e louro.
Separei a carne do peixe e temperei com azeite, mais um pouquinho de sal, óregano e alcaparras escorridas, passada na água e batidinhas. Deixei tudo misturado e pegando gostinho. 
Coloquei uma massa integral para cozinhar - a que gosto mais é a barrila.  
A massa pronta joguei tudo isso por cima e confesso que nunca comi uma massa com atum tão gostosa!!! O atum fresco é outra coisa! 
E olha que não tinha queijo parmesson e eu ralei queijo minas frescal. Mesmo assim ficou divina. 
Depois conto o que eu fizer com as postas que foram pré cozidas, com o mesmo tempero, e congeladas.


sexta-feira, 11 de maio de 2012

Vai ser sintético assim lá em Minas!

Já conhecia o fato dos mineiros de engolirem letras das palavras. 
Fiquei sabendo, recentemente, por amigo mineiro, que eles são o povo mais sintético do mundo.
Quer um exemplo? Sabe o que significa  a expressão "nó", tão utilizada por eles? 
Quer dizer nossa senhora do perpétuo socorro valei-me nessa hora de aflição!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Einstein e Freud

Einstein é o físico mais Freudiano que conheço. 
Vale avisar que conheço poucos físicos e nada sei de física.
Pensei isso ao  me deparar, no museu de Ciências em BH,  essa citação de Einstein:

"Os que acreditam na física, como nós, sabem que a separação 
entre passado, presente e futuro
é somente uma ilusão obstinada e consistente"

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Utilidade Pública

DIÁRIO OFICIAL
Lei de n° 3.359 de 07/01/02 - Depósitos Antecipados

COISA BOA NÃO SE DIVULGA E NINGUÉM FICA SABENDO!

Foi publicado no DIÁRIO OFICIAL em 09/01/02, A Lei de n° 3.359 de 07/01/02, que dispõe:

Art.1°
- Fica proibida a exigência de depósito de qualquer natureza, para possibilitar internação de doentes em situação de urgência e emergência, em hospitais da rede privada.' 
Art 2°
- Comprovada a exigência do depósito, o hospital será obrigado a devolver em dobro o valor depositado ao responsável pela internação. '
Art 3° - Ficam os hospitais da rede privada obrigados a dar possibilidade de acesso aos usuários e a afixarem em local visível a presente lei. '
Art 4°
- Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Não deixe de repassar aos seus amigos, parentes, conhecidos, enfim.
Uma lei como essa, que deveria ser divulgada, está praticamente escondida!
E isso vem desde 2002. Estamos em 2012!
   
 

terça-feira, 1 de maio de 2012

Cinema e Psicanálise


Ainda criança e estudante do grupo escolar me lembro dos filmes que eu vi no Cine Cacique, Broadway e São Luís, cinemas que existiam em Cachoeiro de Itapemirim, minha terra natal.
O ritual para escolher os filmes passava pela censura materna e pela cotação de um jornalzinho católico feita pelo pai de uma amiga que era minha companheira de cinema. Depois de escolhidos os filmes o seu Zé passava em minha casa com seu DKV V MAG e lá íamos nós. Confesso que sempre me fascinava a vida que era mostrada na tela.
Lembro, especialmente, de ter ido com minha família toda ver a vida de Cristo, Ben Hur e Marcelino pão e vinho e outros tantos filmes religiosos. Num desses filmes que durava quatro horas minha mãe atendendo ao pedido de meu pai, que era bom de boca, levou um lanchinho, que beirava a um picnic, para o cinema.Todos nos fartamos. Vale informar que éramos doze pessoas, contando com meus pais.
O cinema sempre foi parte de minhas lembranças. Eu e outra amiga fazíamos coleção de artistas que saiam na revista manchete. Trocávamos figuras e roubávamos algumas mais difíceis de outras colecionadoras.
Naquela época não sabia que ser expectadora da sétima arte, como é chamado o cinema, “abria fontes de prazer ou de gozo em nossa vida afetiva que nos permite uma ampla descarga de afetos.” Como ficaria sabendo mais tarde após tomar conhecimento dos textos do Dr. Freud.
 O cinema em nossas vidas, que muitas vezes segue tão esvaziada de grandes emoções, nos permite, enquanto expectadores, nos identificarmos com o herói ou com o vilão. Assim em um curto espaço de tempo vivemos emoções diversas e, identificados aos personagens da história, podemos matar, morrer, amar, sofrer, rir e chorar sem maiores dores ou sofrimentos, que iriam diminuir em muito o gozo se tivéssemos que desfrutar tais emoções em nosso cotidiano. Como diz Freud assistindo a um filme e nos identificando com os mais diversos personagens sem corremos nenhum risco de colocar nossa vida em perigo.
Ao me tornar leitora de Freud e Lacan e fiel expectadora de filmes fui descobrindo que a ilusão provocada por um  filme coloca o expectador no lugar de analisando. A pessoa que é tocada por um filme pode, interrogada pela narrativa e interpretraçãos dos atores,  se perguntar sobre algumas questões, atuais ou passadas, de sua vida cotidiana. Na verdade podemos dizer que o expectador é visto pelo filme numa relação especular em que ele se vê divido num personagem que até então desconhecia. É a identificação aos diferentes personagens de uma narrativa que permite a cada expectador gostar ou não gostar de um filme, ser lido por um romance ou por uma peça de teatro. Quero dizer só gostamos de filmes cuja narrativa nos permita identificarmos com traços dos personagens da história. Identificar com alguns traços dos personagens não quer dizer que o sujeito em seu cotidiano haja como eles. Lembro sempre de um  ex-vizinho de prédio, gentil,  muito católico e muito educado que adorava filmes de rambo! Naquele herói  ele, provavelmente,  dava vazão a sua agressividade sempre tão recalcada por  um excesso de gentilezas.
A ilusão provocada pela fruição de prazer e gozo despertado por um filme ou por outra obra de arte nos permite, por um instante, nos colocarmos como desejantes e sustentarmos nossos desejos e sonhos mais ocultos.
Assim os filmes que  vemos na verdade nos mostram. Os traços que recortamos de cada filme falam muito mais de nossa história, de nosso modo de nos situarmos e enxergarmos o mundo do que imaginamos.  O gostar ou não gostar de um filme  demonstra se houve ou se não houve uma identificação com  pelo menos um dos personagens da história. Por isso um filme pode ter várias interpretação. Aquilo que toca a um sujeito pode passar despercebido ou até mesmo desagradar a um outro.
Eu diria que é com o inconsciente que assistimos a um filme e não com os olhos. É o sujeito, recalcado e divido, que iludido e envolvido pela imagem da tela, pela narrativa, pela interpretação dos atores, pelo fundo musical e pelo escurinho do cinema, relaxa a censura e deixa que, por alguns momentos  seu inconsciente venha a tona. Quando isso acontece o sujeito revive antigas emoções que até então estavam adormecidas e sai da sala de alma lavada. E basta a luz se acender para o recalque, que estava à espreita, voltar à tona. Só que o sujeito já não se encontra n o mesmo lugar.