segunda-feira, 28 de março de 2011

Dos filmes que eu vi: Incêndios

Incêndios é um filme franco canadense de 2010, que vem atualizar o mito de Édipo.
A história, que é muito bem contada, é narrada em dois tempos. Passado e presente. Passado da mãe que acaba de morrer e cujo testamento obriga a seus filhos, um casal de gêmeos, a partirem em busca do passado materno pleno de fatos, até então, desconhecidos do passado de ambos.
Na narrativa  o rapaz nada quer saber sobre isso. Sua irmã sim. Ela  é matemática e para continuar a exercer sua atividade profissional é aconselhada por seu mestre a partir em busca de seu passado. E é o que ela faz.
Achei bonita a relação que o mestre faz entre a matemática pura e a busca de entender o real. O real é algo que tira o chão do sujeito quando emerge e se impõe no cotidiano, até então mais ou menos arranjado, do sujeito.
As revelações do testamenteiro são da ordem do real.
Buscando atender a demanda materna a irmã parte para Palestina para encontrar um irmão desconhecido e um pai que acreditavam morto. Só depois dessa busca ter sido bem sucedida eles poderiam colocar uma lápide no túmulo da mãe.
O que se segue a partir daí são pequenas  histórias, pequenos recorte de real, com subtítulos que  retratam diferentes épocas da vida da mãe, que vão sendo conhecidas pela filha.
A narrativa é muito bem feita. Assistimos ao mesmo tempo fatos que a filha vai descobrindo  e o mesmo fato sendo vivido pela mãe.
Essa forma de contar a história é interessante porque nos mostra que o que a filha descobre é sempre parte da experiência vivenciada pela mãe. Algo do vivido pela mãe sempre escapa uma vez que a filha tem acesso ao passado da materno por terceiros, através de relatos de outras pessoas.
As  historietas narradas são repletas de preconceito, morte, vingança, horror, determinação, tortura, incesto, dor. Verdadeiros incêndios. Tudo feito em nome de Deus!
O horror presente no mito do Édipo é atualizado na história da mãe. Ela uma mulher que enfrentou a vida com determinação e ousadia, cantando para se manter viva e livre na prisão não suporta descobrir, nos pés marcados de seu filho que lhe foi tirado ao nascer, o rosto de seu torturador. Frente a esse saber ela prefere a morte.
A excelente direção é de Denis Villeneuve.
Esse filme com certeza não pode ser recomendado para as pessoas que entendem que cinema é só entretenimento. 
PS: Achei bem interessante a filha ter ido tão longe para  tentar encontrar alguém que estava tão perto.

8 comentários:

  1. estava sentindo a falta de novos artigos ,adoro comentarios dos filmes que ve e sempre procuro assisti-los.Abraços

    Maria Amália

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  2. Angela, assisti no domingo. Talvez tenha sido tão pesado que adoeci na segunda. rs Realmente um filme impressionante! beijos, Natália.

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  4. hehehehe, não sei se foi isso não, mas que é pesado, é! obrigada, beijinhos.

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  5. pesado ?! Não vi nada de pesado. o filme fala
    de como o amor é misterioso, e de nossa impotê-
    cia diante dos acontecimentos dos ciclos de vida, morte e transformação. e alem disso nos
    desafia a buscar, lutar, tentar ao menos, compreender os desafios que a vida nos faz confrontar. para mim uma das falas mais significativas do filme é que devemos buscar quebrar as correntes de sofrimentos que são passado de geração a geração. o filme pra mim
    é PO-ÉTICO.

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  6. Bom de um filme é isso: cada pessoa é lida por ele de acordo com sua história. Assim o mesmo filme pode ser pesado para uns e poéticos para outros.

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