sábado, 6 de agosto de 2011

Dos filmes que eu vi: Em um Mundo Melhor

A diretora Susanne Bier, a meu ver, acertou em cheio ao problematizar a complexidade dos seres humanos no filme dinamarquês "Em um Mundo Melhor".
 Nesse filme ela trata de questões que nos angustiam e para as quais não temos respostas: 
- A morte, por exemplo.  A narrativa do filme aborda essa questão sobre três aspectos: 
1. A revolta ou a raiva  que advém da não elaboração do trabalho de luto. O trabalho de luto é um trabalho psíquico necessário para a elaboração de perdas de pessoas queridas. 
2. Como a morte de uma pessoa querida tira o "véu" que nos defende do fato de sermos mortais e nos revela a possibilidade, insuportável, da morte. E que quando o trabalho de luto é concluído e retomamos a vida normal o véu volta a encobrir  a morte. 
Só deixando a morte em paz podemos apostar na vida.
3.  O significado da morte e um enterro em Londres ou na Dinamarca e em um campo de refugiados na África.

Destaco ainda outros temas que considero relevantes e que fazem parte da história narrada no filme:
- A separação dos pais e o rebatimento dessa situação na vida do filho mais velho.
- A ausência física do pai, que se divide, por força de seu trabalho, entre a Dinamarca e a África.
- A violência humana, presente em qualquer parte do mundo: na desenvolvida Dinamarca e no campo de refugiados africanos.
- Quanto maior o nível de violência, que em alguns países da África é a barbárie, mais vitimiza  a mulher.
- O preconceito existente entre povos de diferentes países.
- A lei da prisão que vigora na escola: o aluno novo que chega tem que enfrentar o chefe da gang para ser deixado em paz. 
- A dificuldade dos gestores da escola de perceberem o que acontece ali, embaixo de seu nariz, e de colocar limite no garoto que dominava os demais.
- O pai bonzinho demais que fica desvalorizado na frente do filho e de seu amigo.

A narrativa do filme mostra ainda que não dá para o ser humano ser neutro frente às situações de violência e de opressão que ele vivencia ou assiste em seu cotidiano sob a pena de não contribuir para um mundo melhor.
O filme demonstra também que é mitológica essa verdade cristã que diz que se alguém te espanca você deve dar a outra face.  Se você der a outra face ele baterá de novo. Os seres humanos pedem limite. É o limite, sob a forma da Lei Social, associado ao afeto, que barra a violência. 
Em um Mundo Melhor me fez lembrar de  Guimarães Rosa que diz pela boca de Riobaldo "que viver é perigoso". Viver é mesmo perigoso. Seja na barbárie de alguns países africanos, seja na super desenvolvida Dinamarca.
Adorei esse filme! A história nos tira de nosso habitual conforto e nos convida a olhar para além de nosso próprio umbigo.
 
PS: Confesso que precisei  usar todos os lenços de papel que tinha na bolsa!

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