A diretora Susanne Bier, a meu ver, acertou em cheio ao problematizar a complexidade dos seres humanos no filme dinamarquês "Em um Mundo Melhor".
Nesse filme ela trata de questões que nos angustiam e para as quais não temos respostas:
- A morte, por exemplo. A narrativa do filme aborda essa questão sobre três aspectos:
1. A revolta ou a raiva que advém da não elaboração do trabalho de luto. O trabalho de luto é um trabalho psíquico necessário para a elaboração de perdas de pessoas queridas.
2. Como a morte de uma pessoa querida tira o "véu" que nos defende do fato de sermos mortais e nos revela a possibilidade, insuportável, da morte. E que quando o trabalho de luto é concluído e retomamos a vida normal o véu volta a encobrir a morte.
Só deixando a morte em paz podemos apostar na vida.
3. O significado da morte e um enterro em Londres ou na Dinamarca e em um campo de refugiados na África.
Destaco ainda outros temas que considero relevantes e que fazem parte da história narrada no filme:
- A separação dos pais e o rebatimento dessa situação na vida do filho mais velho.
- A ausência física do pai, que se divide, por força de seu trabalho, entre a Dinamarca e a África.
- A violência humana, presente em qualquer parte do mundo: na desenvolvida Dinamarca e no campo de refugiados africanos.
- Quanto maior o nível de violência, que em alguns países da África é a barbárie, mais vitimiza a mulher.
- Quanto maior o nível de violência, que em alguns países da África é a barbárie, mais vitimiza a mulher.
- O preconceito existente entre povos de diferentes países.
- A lei da prisão que vigora na escola: o aluno novo que chega tem que enfrentar o chefe da gang para ser deixado em paz.
- A dificuldade dos gestores da escola de perceberem o que acontece ali, embaixo de seu nariz, e de colocar limite no garoto que dominava os demais.
- O pai bonzinho demais que fica desvalorizado na frente do filho e de seu amigo.
A narrativa do filme mostra ainda que não dá para o ser humano ser neutro frente às situações de violência e de opressão que ele vivencia ou assiste em seu cotidiano sob a pena de não contribuir para um mundo melhor.
O filme demonstra também que é mitológica essa verdade cristã que diz que se alguém te espanca você deve dar a outra face. Se você der a outra face ele baterá de novo. Os seres humanos pedem limite. É o limite, sob a forma da Lei Social, associado ao afeto, que barra a violência.
Em um Mundo Melhor me fez lembrar de Guimarães Rosa que diz pela boca de Riobaldo "que viver é perigoso". Viver é mesmo perigoso. Seja na barbárie de alguns países africanos, seja na super desenvolvida Dinamarca.
O filme demonstra também que é mitológica essa verdade cristã que diz que se alguém te espanca você deve dar a outra face. Se você der a outra face ele baterá de novo. Os seres humanos pedem limite. É o limite, sob a forma da Lei Social, associado ao afeto, que barra a violência.
Em um Mundo Melhor me fez lembrar de Guimarães Rosa que diz pela boca de Riobaldo "que viver é perigoso". Viver é mesmo perigoso. Seja na barbárie de alguns países africanos, seja na super desenvolvida Dinamarca.
Adorei esse filme! A história nos tira de nosso habitual conforto e nos convida a olhar para além de nosso próprio umbigo.
PS: Confesso que precisei usar todos os lenços de papel que tinha na bolsa!
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