segunda-feira, 19 de julho de 2010

As histórias e os medos infantis

Estou aqui lembrando da Cecília, com seus três para quatro anos, em uma conversa animada comigo e com Roberto na praia.
Toda prosa ela nos falava de seus "devederes" preferidos. No topo da lista estava O Sítio do Pica Pau Amarelo.
O personagem que mais gostava? A Cuca. Ela arregala os olhinhos e completa: " A Cuca é aterrorizante!!!" Faz a seguir uma cara de prazer e completa: " Mas eu gosto."
O medo exerce um fascínio nas fantasias infantis. A criança precisa ter medo de perder o amor de seus pais, avós, ou de outras pessoas de sua família com as quais ela tem uma relação afetiva de qualidade para internalizar a Lei. Assim é fundamental que ela possa projetar esse medo nas Cucas e nos lobo maus das histórias infantis.
Poder se identificar, ou mesmo identificar seus entes queridos com a bruxa, com a fada madrinha, com o lobo, com o chapeuzinho vermelho, é fundamental para a criança.
Os pais, ao educarem a criança, nem sempre fazem o que ela deseja. Nessas horas eles desagradam a criança. Nesses momentos a criança pode identificá-los com os personagens malvados das histórias em quadrinhos e, por alguns instantes, deixar de amá-los. Os pais teem que suportar não ser sempre amados por seus filhos. Não devendo abrir mão de sua função que é educar. O pai e a mãe não são amiguinhos de seus filhos. Poderão vir a sê-lo, quando estes estiverem na idade adulta e os pais tiverem cumprido direitinho sua função de educar e cuidar dos filhos.
Por seu lado a criança pode, em diferentes situações, se identificar com os personagens malvados. Assim ao mesmo tempo que eles são aterrorizante eles podem ser o personagen que a criança mais gosta. Esses personagens cumprem uma função subjetiva importante permitindo que a criança, identificada a eles, possa transitar entre serem boas e más ou mesmo tempo. Projetando nos personagens da histórias seus desejos, ciúmes, raivas, invejas. Ressalto os sentimentos agressivos pois, esses, os seres humanos teem maior dificuldade de reconhecer como seus. E deles ninguém escapa. A ambivalência emocional, que é a capacidade inconsciente de todo ser humano de amar e odiar a mesma pessoa ao mesmo tempo ,nos dá uma prova incontestável disso.
Por isso defendo que se mantenham as histórias infantis do jeito que elas são. Nada de transformar as bruxas em fadas. As bruxas e as fadas teem uma função psiquíca. Possibilitam para a criança internalizar e simbolizar a ambivalência emocional. Não temos como negar os bons e os maus pensamentos e sentimentos que nos habitam.
Qual ser humano não tem suas horas de bruxaria?? Nessas horas se tivéssemos vassouras certamente saíriamos voando!

3 comentários:

  1. ... voando ou dando vassouradas! rs beijinhos, ótimo texto!

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  2. Angela, lindo ler sobre minha filhota, tá virando estrela!!!! Vi a Cecília toda no diálogo! Ela sempre se identificou com os "malvados" da história. Quando tinha três anos a professora de inglês fez uma montagem dos três porquinhos na escola. O personagem que ela escolheu interpretar? The Big Bad Wolf, é claro!!!!! Bjs, Mariana Faria

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  3. Ei Mariana, a convivência com o João e depois com a Mariana deixaram boas marcas e saudades em nós.
    abraço

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