O prédio onde tenho consultório de psicanálise tem uma clínica de pediatria e vários consultórios médicos.
Tal fato faz com que, volta e meia, no elevador, me depare com mães levando seus filhos ao médico.
Recortei três cenas desses encontros fortuitos no elevador, que me interrogam.Esclareço que nem ao menos conheço aquelas mães e seus bebês, que aparentam ter menos de um ano de idade.
A alguns desses encontros assisto calada. Outros são acompanhados de algumas trocas de palavras. Isso porque, em algumas situações, brinco com o bebê ou ajudo a mãe, segurando o elevador, apertando o andar para onde ela está se dirigindo.
Confesso que alguns daqueles encontros me levam a pensar na relação mãe-bebê, tão fundamental para a saúde mental da criança, que precisa receber afeto e limite, à medida em que vai crescendo e sendo educada.
Vou transformar alguns desses encontros em cenas, que descreverei a seguir.
Cena I: uma mãe, impecavelmente vestida, carrega a bolsa do bebê, visivelmente doentinho, que está no colo de uma babá.
Qual dessas relações é a transitória na vida da criança? Criança doente quer colo de quem??
Cena II: uma mãe com uma criança, que aparentava ter uns seis meses, comentou que estava levando a filha no neuropediatra. Eu perguntei a razão e ela me respondeu que a criança precisava de um calmante porque acordava muito à noite!
Será que uma mulher que vai ser mãe não sabe que uma criança acorda à noite???
Cena III: uma mãe com uma criança de, no máximo seis meses, ia levar a criança no gastro. Seria refluxo, tão na moda hoje em dia? Não sei!
Assim que ela saiu uma senhora, que também estava no elevador e aparentava ser uma avó, comentou comigo: hoje as mães tem preguiça até de fazer sopinha para os filhos. As crianças comem desde cedo alimentos industrializados e depois tem problema de estomago. As mães não querem ter trabalho.
Outro dia meu marido escutou uma avó falando para outra no elevador: "mal de mãe é não querer ter trabalho com filho".
Será que está faltando avó na vida das crianças? Dessas que sugerem um chazinho, que fazem massagem na barriga do nenê? Que são palpiteiras e participantes na vida dos netos? Que curtem e cuidam dos netos na ausência dos pais? Que fazem comidinhas especiais para os netinhos?
Não tenho resposta. Todavia essas e outras cenas me interrogam sobre qual é o lugar do bebê na economia psíquica de suas mães.
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