terça-feira, 29 de junho de 2010

Dos filmes que eu vi: Diário perdido

Ao se descobrir grávida e cheia de dúvidas se quer ter esse filho Audrey, que mora e trabalha no Canadá, retorna a casa paterna no interior da França. Essa é a trama em torno da qual gira a narrativa do filme Diário Perdido (2009) da diretora Julie Lopes-Curval.
O que assistimos a seguir é o retorno das questões fantasmáticas e recalcadas da relação de Martine, mãe de Audrey, com sua mãe Louise, repetidas em sua relação com Audrey. Temos aí três gerações avó, mãe e filha. Tais questões recalcadas são atualizadas não só pela gravidez de Audrey como também pela descoberta que ela faz de um diário perdido de Louise, sua avó materna que, supostamente, havia abandonado a família e desaparecido, sem deixar nenhum rastro há 50 anos atrás.
O sumiço de sua mãe não foi sem consequências para a vida de Martine e comparecem nas dificuldades que ela tem em estabelecer relações afetivas com seus familiares fora do mundo do trabalho.
A história, cujo título original é Mães e Filhas, é uma demonstração de como as questões recalcadas e traumáticas retornam nas relações afetivas mais próximas que o indivíduo estabelece com aqueles que mais ama e de como é difícil, do ponto de vista psíquico, crescer e se libertar da autoridade dos pais.
Martine, que é médica, vive para o trabalho, atendendo ao desejo de sua mãe que a criara para ser independente. Seu pai era um homem dominador e ciumento e impedia sua mãe, Louise, de ter algum trabalho fora de casa. Ter uma profissão era uma coisa difícil para as mulheres, naquela época. Martine sempre ouvia de sua mãe o quanto era importante ela ter uma profissão. Esse legado de priorizar a profissão Martine também passou para sua filha Audrey, que tinha sucesso no mundo do trabalho e, como sua mãe, tinha grandes dificuldades em suas relações afetivas.
Se por um lado Martine, ao mergulhar no mundo do trabalho, obedecia a sua mãe que a abandonara, por outro obedecia ao pai, recalcando a real motivação do sumiço da mãe e se recusando a falar desse assunto.
A medida em que Audrey vai desvendando o mistério que cerca o sumiço de Louise, Martine pode lidar melhor com suas questões em relação a sua própria mãe e em relação a Audrey, sua filha.
Vale a pena ver esse filme. O enredo é bom e a história muito bem contada.

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