O filme conta a história de uma família que, suponho, pertença a classe média baixa japonesa. O casal e seus dois filhos homens moram em uma casa confortável, localizada perto dos trilhos de um trem.
No início do filme o pai perde o emprego e não fala nada sobre isso em casa. Ele continua saindo todos os dias, como se fosse trabalhar. E passa seu dia, como tantos outros moradores da cidade de Tóquio, procurando um emprego.
Pelo visto um antigo colega de trabalho dele está na mesma situação escolhe também não falar sobre isso com sua família e faz de conta que nada está acontecendo.
Sua mulher está sempre pronta para receber os filhos e o marido. Faz as refeições e cuida da casa. Ao mesmo tempo tira carteira de motorista e sonha comprar um carro. Ela é uma pessoa importante na dinâmica familiar, vindo a ser a referência afetiva para toda a família. Parece ser ela quem administra o salário do marido.
O filho mais velho do casal pouco aparece em casa e quando o faz entra em conflito com o pai. Ele pretende se alistar como voluntário no exército americano e ir para a guerra contra o Iraque e seu pai é contra. Diz tê-lo criado para ser feliz. Nessa hora o pai demonstra que se preocupa com o filho que que gostaria que ele trilhasse outro caminho. Tudo isso é dito de uma forma muito truculenta, violenta mesmo. Ainda assim o rapaz segue seu projeto e parte para a guerra.
O filho mais novo do casal é um pré adolescente. Na escola ele enfrenta um professor tirano que quer castigá-lo por algo que ele não fez. O professor perde o moral frente a classe. Isso o deixa bastante chateado. Ele pede desculpas ao professor pelo efeito de seu ato. O professor não o acolhe.
Seu sonho é estudar piano. Ao pedir autorização a seus pais para realizar seu sonho seu pai o proíbe, de maneira violenta.
Para pagar suas aulas de piano o filho mais novo desvia o dinheiro da merenda, que ele deveria pagar à escola, e paga suas aulas de piano com esse dinheiro. Claro que a família descobre.
Nesse meio tempo a mulher desconfia do marido e o vê comendo na rua em uma fila para desempregados. E se cala.
Ninguém diz ou pergunta nada ao outro. Essa ausência de palavras é o que mais chamou minha atenção nesse filme. Os problemas que cada membro da família enfrenta não são compartilhados entre eles. Parece que tudo é vivido em uma enorme solidão. Não se conversa quase nada. Eles entram em casa, a mãe os recebe, serve a comida e muito pouco é falado
Quando falam algumas coisas, só falam, não conversam. Nada de importante é dito. Ninguém sabe de nada do outro.
É espantoso também a frieza das relações entre as pessoas. Ninguém se toca. Nenhum abraço, beijo, um aperto de mão ou outra demonstração de afeto. Nem mesmo quando a mãe vai se despedir do filho que está indo para o exército. A única vez que o pai toca nos filhos é para agredi-los.
Ainda assim parece que aquela família tem uma boa relação entre eles, para o padrão cultural japonês. Isso porque por um momento a família se desagrega e cada um parece tomar seu rumo. E todos retornam. Até mesmo o filho mais velho, que envia notícias
O pai consegue se reinserir no mercado de trabalho em uma ocupação que o envergonha e é flagrado pela mulher de quem foge. Ele retorna para casa e decide enfrentar sua nova posição e retomar a vida familiar, preservando seus valores éticos e morais.
A mãe que, por um momento parece que se cansa de cumprir sua função e se deixa levar pelos acontecimentos inesperados, também retorna para casa e lá encontra seu filho mais novo. A pai chega logo a seguir.
Fica parecendo, em um primeiro momento, que foi o fato de o pai ter perdido o emprego o fator desencadeador da desagregação familiar. Todavia entendo que foi muito mais a forma que ele escolheu para encobrir o problema que desencadeou da crise familiar que se seguiu. A mentira, a farsa, passou a ser o modo de relação que aquele pai escolheu para se relacionar com sua família. Essa mentira foi mantida e passou a ser o modo de relação que se tornou predonimante entre as pessoas daquela família.
A mulher descobre que o marido está desempregado e finge não saber.
Claro que o comportamento parental vai refletir no filho mais novo que, a despeito da proibição paterna, também vai se virar para realizar seu sonho de estudar piano escondido.
O filho mais velho ao partir para a guerra, foi quem sustentou seu desejo sem escamotear ou fingir como os demais.
Quando o pai resolve assumir sua nova posição e parar de fingir a rotina da família entra novamente nos eixos.
Esse filme vale a pena ser visto. Ele nos mostra dentre outras coisas que a mentira nunca é o melhor caminho para se enfrentar as dificudades que surgem na vida de cada pessoa. nos mostra também como as dificuldades do casal repercute na vida de seus filhos.
Esse filme é de 2008 e seu diretor é de Kiyoshi Kurosawa.
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