Tentava inventar uma história. Dessas risíveis. A filha chega e lê o que está sendo escrito e censura. A mãe muda o tema e resolve falar sobre a censura como fruto da ditadura. Aos olhos da filha o tema é o mesmo. Diz que a mãe quer implicar com ela. A mãe não se rende. Demorou um tempo enorme para se permitir escrever, sem achar ou pensar no que irão dizer ou julgar. Demorou muito tempo para suspender a censura interna. Ela que viveu a ditadura militar não pode se render a ditadura domiciliar. Rindo citou jargões sobre a liberdade, que já é tão pouca, e sobre o direito de inventar qualquer história louca que a permita fingir e mentir. De vez em quando uma mentira e um fingimento faz um bem danado. Afinal toda história tem um pouco de memória e muito de ficção. Por isso toda vida, quando bem vivida, dá boas histórias. Basta ter alguém que conte e alguém que escute. Só escuta quando se entende a língua. Assim a história vai criando pernas e ganhando o mundo. Vários mundos existem em um só e tudo vai girando. Ela, que mora numa ilha, pensa aliviada que o fantástico de tudo isso é que o mar não entorna.
PS: A foto acima é da ilha de Vitória, que achei na internet.
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