Contrariando a música de Lulu Santos que diz que "nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia...", o filme alemão A Onda, do diretor Dennis Gansel, atesta o que nos demonstram a história da humanidade e a existência do inconsciente: que na vida humana tudo se repete. E que a segregação está na base de todo e qualquer grupo.
O filme, baseado em uma história real, nos mostra um professor que propõe a seus alunos vivenciarem, em um curto espaço de tempo, como se constrói e se sustenta um regime autocrático.
É assustador assistirmos como aqueles adolescentes vão sofrendo mudanças radicais em seus modos de ver, sentir e levar a vida na medida em que vão experienciando, no grupo, os princípios da ditadura.
Do sectarismo à violência é só um pulo e o professor perde o controle da situação que era para ser, a princípio, uma espécie de laboratório.
Vale destacar que na história, duas alunas, mulheres, conseguem ver o absurdo que está acontecendo e rompem com o grupo. Para uma dessas alunas a influência de sua mãe foi fundamental para que ela não somente rompesse com o grupo, como também passasse a combatê-lo.
Outra questão que se destaca no filme é o fenômeno mais intrigante e curioso da psicologia dos grupos. Estou me referindo aqui à perda de liberdade individual a que todo indivíduo se submete ao vestir a camisa, ou uniforme, de um determinado grupo.
Fascinado pelo líder e pelos seus irmãos ou iguais no grupo e para ser amado e aceito por eles, o indivíduo passa a pensar, agir e sentir de acordo com o que é ditado pelo grupo.
Fascinação e servidão são fenômenos psicológicos que andam juntos, favorecendo a sujeição humilde e a obediência cega do indivíduo para com as ordens do líder e as regras criadas pelo grupo.
Identificado ao líder e aos outros membros do grupo o indivíduo abre mão de sua iniciativa, criatividade e de seu senso crítico. O grupo não permite a emergência da diferença, só aceita e acolhe os iguais.
Tais fenômenos grupais ocorrem com maior ou menor força em todos os grupos que participamos no decorrer de nossas vidas e com os quais nos identificamos.
Sorte nossa que o ser humano passa a vida inteira se identificando e se desidentificando com inúmeras pessoas e grupos no decorrer da vida.
Alguns filmes valem a pena serem vistos pela beleza da história, pela música, ou pela fotografia. Outros, como esse, para nos lembrar como caímos como patos em armadilhas quando ficamos fascinados por uma pessoa, por uma ideia ou por um grupo.
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