terça-feira, 24 de julho de 2012

Como um produto na linha de montagem.

Tenho plano de saúde da UNIMED e estou fazendo os exames anuais que são solicitados pela minha ginecologista. Confesso que ao fazer a mamografia me senti como uma peça de algum produto na linha de montagem. Um exame que é simples e rápido na linha de montagem demorou 2hs entre idas e vindas em diferentes salas. Já conto para vocês.
Cheguei ao CDI mulher, local aonde fui fazer o exame e me dirigi a recepcionista para quem entreguei a solicitação da médica, documento com foto e carteira do plano de saúde.  Ela recebeu a apelada e solicitou que eu me sentasse e aguardasse. 
Lá fui eu sentar em uma  sala cumprida, cheia de cadeiras enfileiradas, como se fosse um auditório, tendo ao  fundo uma TV de plasma passando Ana Maria Braga. O barulho e as conversas não permitiam que ninguém assistisse ao programa - fato que pode ser positivo ou negativo dependendo de quem está lendo.
Passado algum tempo a  atendente me chamou para assinar um papel e para me entregar meus documentos.  
Voltei para a sala auditório e continuei aguardando ser chamada para fazer o exame, o que aconteceu algum tempo depois.
Acompanhei uma funcionária que me levou para uma outra sala auditório um pouco menor. Lá continuei aguardando ser chamada para o exame. 
Depois de algum tempo uma profissional, simpática, me chamou para fazer a mamografia.
Sempre digo que esse exame deve ter sido inventado por quem detestava mulher e sonhava e apertar os peitos de algumas delas. Imaginem um exame no qual tivéssemos que apertar os sacos de algum macho. Esse, na minha fantasia, seria o equivalente masculino da mamografia.
Confesso que a mamografia foi bem mais suave que outras que já fiz. Atribui isso a competência da profissional que fez o exame e que me posicionou direitinho na máquina. Além da qualidade da máquina é claro, que estão cada vez mais avançados.
Comentei isso com uma outra senhora que estava no pequeno auditório e ela me disse que as máquinas modernas devem ser mais sensíveis. Pode ser a soma das duas coisas, pensei cá com os meus botões. Ótimo esse avanço tecnológico, não é mesmo?
Nessa hora já estava de novo no pequeno auditório e fui orientada a esperar  a médica olhar o exame e ver se eu estaria liberada.  O que de fato aconteceu. 
Duas horas depois de iniciar essa maratona pude voltar para casa tranquila. 
Essa demora deve ter relação também com o maior número de mulheres que estão fazendo esse tipo de exame, que deveria ser acessível a todas as mulheres brasileiras .

sexta-feira, 20 de julho de 2012

É policamente correto?

Fui assistir a um teatro infantil e me deparei com uma situação, que parece ser frequente hoje em dia, que é a ditadura do politicamente correto. 
Durante o espetáculo foram cantadas algumas canções infantis de forma mudada, forma essa que considero ser uma censura  a  agressividade da criança. A agressividade é constituinte do psiquismo humano e não pode ser eliminada pela censura externa. Todos os seres humanos são dotados em seu psiquismo da  capacidade inconsciente de amor e ódio por uma determinada pessoa ou objeto.
 Se a  criança canta que bateu no gatinho ela,  por falar, não precisa, necessariamente, de bater no gatinho.  
Desde Freud e do advento da psicanálise sabemos que a fala, a palavra, pode substituir a ação. 
Se a criança pode manifestar em seu discurso sua agressividade  de forma lúdica por que censurá-la?
Essa mesma censura existe para as histórias infantis. Nessas histórias as bruxas e as fadas,  os bons e os maus personagens, ajudam a criança simbolizar alguns de seus sentimentos, afetos, vivencias e fantasias. Tais personagens tem uma função psíquica e não é sem razão que tais histórias são repetidas por anos e anos a fio. 
Os personagens bons e os vilões nas mais variadas situações narradas na história, permitem à criança, se identificar ora com um, ora com outro, personagem e assim integrar suas pulsões agressivas e amorosas. Ela não só se identifica com tais personagens como também identifica-os com os adultos que a cercam, que também tem sua cota de pulsões  agressivas e amorosas.
Uma criança que em um ou outro episódio bate num bichinho ou em um coleguinha não pode ser considerada má só por esse seu ato.  Cabe ao adulto educar a criança dizendo que ela não pode fazer isso e mostrar seu desagrado. 
 A criança só vai recalcar suas pulsões agressivas se ela perceber que se insistir em ser mázinha ela pode perder o amor de seus pais , e de outro adulto que ela ame.
Se uma criança está sempre batendo ou xingando seus colegas ou cachorrinho, gatinho, é sinal de que ela está precisando de ser ajudada, que alguma coisa, não vai bem com ela. Alguma coisa está acontecendo em seu entorno e ela precisa ser convidada a falar, a dizer, porque ela está precisando fazer tais atos.   


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Em cada esquina uma nova religião.

Tenho andado pensando nas diversas e diferentes igrejas que, de uns anos para cá, estão se multiplicando em cada esquina da cidade. 
Conversando sobre esse assunto  uma conhecida  comentou que seu  irmão brinca com o tema, parodiando uma propaganda,  dizendo: "pequenas igrejas, grandes negócios". Já ouvi outras pessoas falarem isso de outra forma quando dizem que  "templo é dinheiro". Tais brincadeiras não são feitas por acaso. É fato público que alguns chefes de tais igrejas enriquecem muito rapidamente e passam a ser caso de polícia.
Brincadeiras a parte, ainda que religião seja um tema que mobiliza as pessoas e suas vidas, me espanta os disparates que escuto sobre esse tema e a facilidade com que se abre uma igreja nova.  
As graças que tais religiões prometem não tem nada de gratuidade, e assim o reino dos céus vai sendo loteado entre os fiéis de determinada igreja. Não é sem razão que são chamadas  de "igrejinhas" grupos que são muito fechados e cujos participantes se beneficiam entre si.
O fato é que a salvação sempre é prometida para seu rebanho e quem pertence a outra igreja precisa ser convertido para ser salvo.  Nessas horas desconverso e tento salvar minha pele, ou melhor, meus ouvidos, caso contrário você pode ser submetido a uma falação interminável, nessa tal tentativa de conversão, que acho um total desrespeito. 
Nós, seres humanos, estamos sempre buscando um sentido para a vida e  resposta para nossa finitude. A religião responde bem a essa busca de sentido para a vida e ainda promete a vida eterna para os bons fiéis, que muitas vezes, como na música Procissão, de Gilberto Gil: "vivem penando a qui na terra esperando as coisas lá do céu."


segunda-feira, 9 de julho de 2012

Dos filmes que eu vi: Cairo 678

Cairo 678 (2010)  é um filme egípcio dirigido  por Mohammed Diab e a narrativa se passa em Cairo.
A história denuncia  um aspecto da vida cotidiana das mulheres egípcias que é ter que conviver com o assédio sexual diáriamente. Os homens assediam as mulheres de forma descarada em todos os espaços públicos: nas ruas , nos ônibus,  no trabalho.
Essa prática  violenta contra as mulheres repercute nas relações que elas estabelecem na família, com seus maridos , noivos, pais, patrões, ..
O filme mostra que é de conhecimento público que as mulheres sofrem assedio sexual. Como a sociedade egípcia é muito machista a mulheres silenciam sobre a violência a que são submetidas diariamente.
Como nada é dito e nenhuma mulher tinha registrado um boletim de ocorrência policial sobre o assédio sofrido é como se tal prática ficasse invisível. O que não é falado, o que não é escrito, sob forma de uma queixa crime na policia, não existe.
O assédio fica invisível mais não deixa de causar muitos traumas naquelas que o sofrem e até nos seus companheiros que, por incrível que pareça, se sentem atingidos em sua honra e tem dificuldades de conviver com a mulher violentada.
A narrativa do filme conta a história de três mulheres que sofreram assédio e que resolveram reagir a essa violência. 
É assustadora a cena da saída de um jogo de futebol quando um bando de homens molesta uma das três mulheres. 
Gostei bastante desse filme. A história é muito bem contada. A fotografia do filme  nos mostra que a mulher pode estar coberta dos pés à cabeça que não garante que ela será vítma de assédio sexual.