segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Estupro, mal ignorado nas guerras

Na revista "Carta Capital" dessa semana tem uma reportagem sobre como o estupro é "comum" em tempos de guerra.
A reportagem ressalta que esse mal é generalizado e que as vítmas,  que em sua grande maioria são mulheres e crianças do sexo feminino, quando não são discriminadas por seus próprios familiares são ignoradas.
Se por um lado a reportagem ressalta que o estupro é um tema tabu e que existem poucos registros históricos anteriores ao século XX da ocorrência desse tipo de crime em situações de guerra ou conflito. Por outro lado constata que há 16 séculos atrás, após o saque de Roma, Agostinho, não sei se o santo, afirmou ser o estupro, um mal antigo e costumeiro em tempos de guerra.
A reportagem nos mostra ainda um quadro com números altíssimos de mulheres estupradas  em diferentes guerras desde 1937.

Essa reportagem me fez lembrar o texto freudiano. A psicanálise tem muito a dizer sobre o tema da sexualidade e da agressividade, pulsões tão presentes e centrais na vida dos seres humanos.
A teoria psicanalítica vem afirmar que a vivência plena das pulsões sexuais e agressivas, cujo ápice seriam o incesto e a permissão de matar o semelhante, são proibidas, nas mais diferentes culturas, a todos os seres humanos.  
De acordo com Freud essas duas Leis, que proibem o incesto e a morte do semelhante, fundam a civilização, a cultura e humanizam o seres humanos, permitindo a convivência fraterna entre eles. Essas duas Leis regulam toda a vida humana, tanto do ponto de vista psíquico, quanto social.
A forma como cada sujeito, cada criança que nasce, internaliza essas proibições vai resultar em sua estrutura clínica e, consequentemente,  na sua forma de inserção social.
Três são as saídas frentes a essas proibições. O recalque, a renegação ou a foraclusão dessas proibições. Cada uma dessas saídas irão estruturar a forma como o sujeito lida com seu corpo, consigo mesmo, com seu desejo e com seus semelhantes.  Quer dizer cada uma dessas saidas estruturam um modo de funcionamento psíquico e social do indivíduo, resultando no que denomimanos neurose, perversão ou psicose.
Todavia as guerras nos mostram que quando a pulsão agressiva é desrecalcada, quando é permitido matar o semelhante, a pulsão sexual imediatamente é desrecalcada junto. Daí os crimes de estupro serem crimes comuns nas guerras. 

Como crime que é o esturpo tem que ser punido. Como crime que é não pode mais ser ignorado nem fazer de suas vítmas discriminadas, ou seja, duplamente criminalizadas como se fossem elas a desejarem tal situação.
As guerras e os crimes sexuais decorrentes das mesmas nos mostram como do ponto de vista psíquico não evoluimos nada. Continuamos na barbárie.  Evoluimos sim do ponto de vista da técnica, que é cada vez mais sofisticada, para matarmos e humilharmos nossos semelhantes.

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