domingo, 17 de janeiro de 2010

Devastação, solidariedade e luto.

O recente terremoto ocorrido no Haiti nos confirma como as tragédias e devastações causadas pelos fenomenos da natureza são, reconhecidamente, umas das grandes fontes de sofrimento humano.
Furações, terremotos, maremotos e outras catástrofes, por serem mensageiros diretos da morte e da devastação, são motivos de solidariedade humana.
Sabemos que a reconstrução de um país, estado ou município que sofre os efeitos de uma tragédia decorrente desses fenomenos naturais depende muito da situação economica da população afetada.
Se as áreas atingidas são ocupadas por países e populações economicamente ricas a reconstrução dessas áreas afetadas é mais rápida e as perdas materiais são recuperadas pela população atingida com maior rapidez.
Quando essas tragédias abatem os países mais pobres, como é o caso do Haiti, os países ricos se sentem convocados a prestarem uma ajuda humanitária à população atingida pela tragédia. Depois de amenizados os efeitos imediatos da tragédia tudo volta a ser como dantes para a vida daquela população. A situação de miséria e a pobreza da população irá continuar a mesma. Essa questão não sensibiliza os países mais ricos, cuja riqueza provem da exploração dos países mais pobres.
No que diz respeito aos efeitos das perdas decorrentes dessas tragédias, as pessoas que sofrem essas devastações, sejam elas ricas ou pobres, necessitam fazer um trabalho de luto. Esse trabalho de luto deve ser feito tanto por cada pessoa individualmente, quanto por um determinado grupo social seja ele familiar ou comunitário, coletivo.
O trabalho de luto é o tempo para cada indivíduo ou grupo chorar, reconhecer e enterrar, quando possível, seus mortos, sejam eles de familiares, de amigos ou de conhecidos. É o tempo para cada indivíduo ou grupo chorar a perda de sua moradia, com seus pertences. É o tempo de chorar as perdas coletivas como a rua, a escola, a praçinha, etc.
O trabalho psíquico do luto é o tempo de se reconhecer e elaborar as perdas emocionais, ou afetivas e materiais de pessoas ou de grupos sociais. Essas últimas muitas vezes significam tudo o que um individuo ou uma família conseguiu amealhar por toda uma vida.
Para os seres humanos as perdas, sejam elas afetivas ou materiais, são sempre muito dificieis de serem elaboradas e cada indivíduo faz isso a seu tempo e seu modo.
Árduo trabalho psíquico é o trabalho de luto! Porém, é um trabalho absolutamente necessário para que o ser humano possa voltar a reinvestir e apostar na vida.

3 comentários:

  1. Ângela,
    Reli esse texto hoje e lembrei da minha sogra, que no final de fevereiro perdeu tudo que tinha em um incêndio,ocasionado por um curto-circuito na sala, conseguiu sair da casa em chamas de pijama e desçalça, nem o óculos deu tempo de pegar.Mulher com forte auto-estima e atitude positiva lamenta pequenas coisas como a máquina de costura que a mãe trouxe da Alemanha,cartas,fotos etc Vou enviar para os filhos que a acolheram até reconstruir a sua casa,o trecho final do seu texto,para contribuir com a perda.

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  2. Ops para contribuir com a elaboração da perda!

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  3. É no decorrer da vida vamos juntando algumas coisas que fazem parte de nossa identidade. Perdê-las não é fácil. Sorte que no caso de sua sogra ela conseguiu sair sã e salva da casa e ser acolhida pelos filhos. Ainda assim há que elaborar as perdas que teve.

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